Lilian e Mateus

Uma linda história de adoção

Eu admito que falar da Lilian é algo que me emociona muito. Nos conhecemos tem cerca de um ano através do correndo por eles. Nos encontramos diversas vezes em eventos do correndo, mas falamos por telefone algumas dezenas. Claramento a sintonia entre nos duas existiu desde o primeiro momento. Não sabemos muito uma da vida e rotina da outra, mas sempre que falamos é para ajudar alguém. Para apoiar alguma mãe. E esse é dos maiores presentes que o Blog tem me proporcionado. Muitas das mães que enviaram testemunhos, vieram através das mãos e coração ENORME da Lilian. Realmente ela é daquelas pessoas, que você conhece uma a cada 100 anos. De uma dignidade e disponibilidade para ajudar o próximo como jamais tinha visto.

Um dia, senti que precisava convidá-la a escrever sobre a sua maternidade, sem fazer a menor ideia a incrível história que exista.

Mas sendo a Lilian, tinha de ser surpreendentemente especial.

Prepare o seu coração, porque as linhas seguintes irão fazer você repensar e muito o tema adoção.


Hora de aquecer os corações!

A "Fê", mãe da Guerreira Carol, em um belo dia de sol enviou-me um áudio "tem algo especial entre vocês dois. Estou certa? Poderia contar sua história no blog da www.guerreiracarolina.com.br?"

E, após autorização do meu adolescente, aqui estou!

Mateus não foi gerado no meu ventre, esse privilégio foi concedido à sua mãe biológica, à qual serei sempre grata e, a quem ele poderá procurar, caso queria! Sim! É direito dele, além disso, o amor genuíno liberta, tem força para destruir barreiras, ainda que em silêncio!

Em 2010, recebi uma ligação da Justiça de MG: "temos um menino, abrigado, fora do "padrão" para ser adotado, quer conhecê-lo? Posso mandar fotos, exames... ele precisa de cuidados médicos, tem quase 7 anos, e pesa 18 kg, mas se a senhora não quiser tudo bem"! Tudo bem para quem? (no Brasil, existem mais habilitados do que crianças, disponíveis, para adoção, porém essa conta não fecha, porque, em regra, quem adota tem um perfil bem seletivo: menina, branca, sem irmãos ou doenças, com até 2 anos)! Não é uma crítica, apenas uma informação! Cada um é livre para fazer suas escolhas!

Uma mistura de sentimentos e medos! Em longos segundos, uma síntese mental da realidade: eu, retomando uma relação conturbada da adolescência, morando em outro estado, desempregada, reaprendendo a viver, após ter ficado cega, por 6 meses, mas ouvindo de Deus, naquele instante, que seria a hora de enxergar com o coração e mudar o rumo de nossas vidas!

- Você está aí?!!! Disse a assistente social? Sim! Estou!! Não quero fotos! Estou indo buscar meu filho! Ah! Qual é o nome dele? S.S.J! Eita!! Irei chamá-lo de Mateus S. R. de Andrade, pode né?! (Mateus significa presente de Deus)!

Em casa, sem esperar apoio, ouvi: "será que é o momento?"! "Vai acabar com nossa vida"! "Melhor esperar"! Não esperei! Era um chamado! Não havia o quê fazer! Não iria desistir, dessa vez! Antes, já havia sido contactada para conhecer três irmãos e recusei! A adoção tem disso, na hora certa, seu filho aparece! E, fui sozinha, em silêncio! Avisei, apenas, a melhor amiga, que apoiou, mesmo sem concordar! Esse dia é tão vivo, ainda hoje! 

Quando cheguei no lar "Cidade dos Meninos" fui arrebatada por uma dor inexplicável, quando entrei naquele "depósito de meninos" ! O "líder da tropa", aparentando 13 anos, sem vacilar, disse olhando nos meus olhos: "tia leve ele, o moleque é chorão e, não tem ninguém". Golpeada respondi: "não tinha "amigão"! O adolescente enfatizou: "espero que sim! Não serei seu amigo, mas cuide dele"! Silêncio constrangedor! De repente, uma criança aparentando ter 3 anos segurou na minha mão e, com um sotaque forte falou: "disseram que você será minha mãe! Podemos ir para casa, MÃE?". Uma freira, consternada, com a cena, disse: mãezinha, que bom que a senhora veio, ele será o seu filho!

Queria chorar, gritar, perguntar, dividir aquele momento com alguém! Mas, estava ali, apenas com meu coração e a direção de Deus!

Respirei fundo! Pernas trêmulas! Peguei o "Mateus" no colo, que logo deitou -se no meu ombro! Nossos corações acelerados, e com a voz engasgada perguntei "onde assino"! Nasci como mãe e, ele tornou-se, meu filho! Fomos agarrados até o hotel, de táxi, em paz! E, nunca mais voltamos lá! E, já são 9 anos, juntos!

Assim, fiquei imaginando, formas diversas, de expressar minha gratidão por ter sido ESCOLHIDA pelo Mateus e, conclui que contar um pouquinho de nossa vida seria um meio de propagar que lugar de criança não é em abrigo, institucionalizada, porque toda criança precisa de proteção, respeito, educação, em um lar, que a ame, mas se não for possível Amor, que pelo menos garanta seu crescimento! Não era segredo, mas não falamos muito sobre adoção! Filho é filho! Enfrentei o preconceito, velado, dos amigos, por ser um menino "grande", ignorei, entendi! 

Não importava o que o mundo iria dizer, meu filho havia chegado. O importante era provar ao juiz que eu poderia ser mãe, e garantir a formação moral, social, material e os sonhos daquele menininho, desnutrido, tímido e assustado. E, foi assim que nossa vida começou...

Foram 3 anos de guarda provisória, noites mal dormidas, preocupações, remédios, alimentação saudável, vacina, vitaminas, muitas advertências escolares, "cadeiras do pensamento", palmadas, desobediência, uma guerra de amor e ódio! Um menino arredio que nenhuma psicologia fora capaz de ajudar ou entendê-lo ! Idas e vindas a muitos especialistas! Ajuda incessante da escola! Cansada, mas com uma fé inabalável mudei às regras, já que me sentia uma perdedora! Porém estava perdendo para avançar! Passei a não sofrer! Cada ida ao colégio uma vergonha, jamais vivida! Mas, sem sofrimento! Pedia desculpas e repetia a "ladainha" a ele!

Claramente, era testada nos detalhes! Era assustador aquele "pingo de gente " querendo certezas, uma mãe permissiva " você tem que fazer às minhas vontades", ele falava baixinho e, eu respondia, aos berros " filho, acorda não ando fazendo nem às minhas", mas NÃO IREI DESISTIR DE VOCÊ!!! Esse ainda é meu mantra para os dias difíceis! Até, hoje, ele tem seus dias "maus"! A diferença é que aprendemos que somos únicos, conectados por um amor incondicional!

Sempre que posso repito que ele foi minha melhor escolha. Como seria não andar de mãos dadas, pelas ruas, com um filho gato? Ou não receber o beijo na testa quando estou chateada? Quem me aceitaria, exatamente, do jeito que sou? E, quem pagaria "micos" ao meu lado? E nossas canções? E, meu café, nos dias de folga? Tanta coisa que compartilhamos... paqueras, segredos, dores, lágrimas, projetos e corridas! Sou muito dura com ele, mas tenho muito amor! Preciso que tenha valores definidos e, que a verdade seja sua prioridade! Preciso protegê-lo, mas dar-lhe responsabilidade, pois um dia, ele irá enxergar que o mundo não é um lugar tão legal, como deveria ser!

O mais importante é que acima de tudo, Mateus, não tenha medo de seu passado e, que aproveite a oportunidade de ser especial para Deus e para todos nós! Por fim, não é fácil criar filho, não tenho dom para mãe boazinha, mas sou apaixonada e morro de orgulho desse menino educado, prestativo, cheio de amor ...

O que importa, hoje, é o que somos quando estamos juntos e, estamos sempre juntos. Não importa onde estive até aquele encontro, importa que ele tenha um lar, amor, uma oração clamando por sua saúde e desenvolvimento, beijos e a certeza de que estarei ao seu lado, nos sonhos, ruins e, ao amanhecer.

Importa o amor, a educação, formação social, moral, espiritual, que ofereço para a construção do seu futuro.

Não importa o porquê de ter um filho de 6 anos, e sim o fato de ter os próximos anos, ao seu lado.

Importa o seu passado e o que já chorou, contudo, sem sofreguidão.

Estamos aprendendo, construindo e depois que o Mateus chegou...

Entendi a diferença entre amor e amor incondicional.

Aprendo que ser MÃE é dom e exercício de superação diária!

Aprendi que ter um filho do coração é o presente mais perfeito que Deus pode conceder a alguém!

É lágrima, amor sem medida, mimos aliados a uma educação rígida.

É carinho, amizade, parceria!

É bagunça na casa, que acabou de ser arrumada! É riso inesperado e perguntas surpreendentes.

É "mãe, por favor", mãe, mãe... de manhã, de tarde, de noite e durante os sonhos. É magia e coragem. É gratidão e Escolha!

Lílian Ribeiro de Andrade, mãe do Mateus de 15 anos.