A Mamãe

A minha visão. Quem sou. Como sinto.

06/09/2022 - 9 anos

Minha linda Carolina,

Digo sempre que estar grávida de você e te amamentar foi sublime. Me sentia poderosa e forte.

Depois tivemos anos de muitas angústias e incertezas. Muitos médicos, exames e internações sem fim.

Muitas noites sem dormir. Dias sem fome alguma. Lágrimas que não paravam de escorrer. Medo dentro do peito.

Mas logo percebemos a sua força e a guerreira que estava diante de todos! Que você vinha ao mundo carregada de energia boa e de luz.

Nunca se deixou abater em nenhum momento.

Sua professora da escola me disse na semana passada: " ela é uma criança tão feliz Fe!". Meu coração transbordou de orgulho, me fez ter a certeza que traçamos o caminho certo, firme e de fé.

Hoje você faz 9 anos e sei que está em uma das suas melhores fases de saúde.

É focada e dedicada. Ótima aluna!

Amiga de todos, por você carregaria o mundo junto. Viveria rodeada de todos em modo festa e diversão!

Adora dar e receber presentes, mesmo que seja um desenho ou uma simples flor do jardim. Ama fazer e oferecer pulseiras de miçangas e elásticos - treino ao longo de anos para as suas mãos...

É sorriso puro e raramente lágrimas.

Vê a vida pelo lado do sol, mas ama olhar o céu, em especial a lua e as estrelas.

Conversa com as estrelas, para enviar boa noite ao seus ancestrais. O seu coração é lindo, brilha e ilumina.

Cativa a todos por onde passa e deixa presente que ser diferente não tem problema algum. Que todos somos diferentes e especiais. Vê o mundo pela inclusão. Sempre viu.

Peço a Deus e a Nossa Senhora que te proteja a cada dia e ensine com amor no momentos bons e menos bons. Viver é isso!

Seja feliz sempre.

De sua mãe que diz diariamente: "Te amo mais que tudo no Mundo!",

Fernanda


Agosto 2019

A minha vida desde os meus 20 anos que se transformou numa aventura com a minha saúde, após um tumor. Foram 15 anos sem respostas. Na gravidez mudei! Melhorei! Fortaleci! Até aos 15 dias antes da Carol nascer, eu quebrei o pé. Sim... ser uma grávida e depois mãe de um recém-nascido e me manter firme com o pé quebrado, foi mais uma aventura. Mas hoje pouco lembro do pé... aliás ele acabou trazendo muita sorte também. Depois do stress e ansiedade dos últimos anos a minha saúde volta e meia, vem com coisas novas. Uma asma. Uma epicondilite. Faringites recorrentes. Mal estar súbito. Etc... e quando olho essas fotos grávida da Carolina só lembro de como me sentia forte, saudável, flutuando, feliz e grata. A minha saúde tão instável tinha se transformado com tanto amor! Mal sabia eu... que estava só me fortalecendo para o que vinha! Hoje com a saúde da Carol estável, a minha Imunidade anda mais "abalada". Acho que porque agora posso desligar um pouco de tanta adrenalina "a nível pessoal" que passei, uma coisa atrás da outra... e apesar de estar numa fase onde trabalho mais do que me lembro nos últimos 8 anos, vejo o quanto mudei. Mesmo exausta em alguns dias agradeço tanto, mas tanto! Hoje com a carol em meu colo num dos seus difíceis episódios de "crise noturna" me vejo calma sussurrando em seu ouvido: está tudo bem, meu amor, mamãe está aqui! Eu e seu pai, estamos aqui! Por você, juntos!   


Por vezes as coisas menos boas na vida têm um motivo.

Quando eu estava gravida, com 6 meses, passeando o meu cachorro Pumpy (que trouxe de Portugal) torci o meu pé direito (coisa boba), mas quebrei na hora e percebi que o estrago era feio, devido à dor que sentia.

Aqueles minutos iniciais de muita dor, fizeram com que a minha barriga ficasse muito dura... dos minutos mais difíceis da minha gravidez. O Pumpy, meu fiel amigo, esteve ao meu lado até o socorro chegar.

Segui de ambulância para um hospital público e tive receio do pior. Lembro de olhar para meu pé preto, super inchado e pensar, Deus e agora, porquê mais isso?

Fui muito bem atendida na emergência, porém só não operaram o meu pé porque estava grávida. Engessaram até perto do joelho. Muletas e gesso não ajudavam a uma barriga já pesada de grávida. A cada passo, eu sentia que entrava em trabalho de parto.

Passei por dois ortopedistas que queriam operar o meu pé no dia mesmo do parto. Recusei com todas as minhas forças. Disse que a minha prioridade seria a Carolina e que o resto, no caso o pé eu resolveria depois.

A obstetra que tinha começado a me seguir assim que cheguei ao Brasil (3 meses antes) me deu zero apoio em todos os momentos que a ela recorri. Desvalorizou a situação.

Eu tinha em mãos um plano de saúde com carência para o parto e qualquer outra cirurgia.

Busquei uma nova médica e parei nas mãos de uma mulher linda e profisisonal supercompetente, que me acalmou e tranquilizou em relação a todos os temas e ansiedades que eu tinha. Inclusive sobre todas as despesas de um parto particular, devido à carência do plano de saúde.

Pedi para retirarem o gesso, porque o peso dele, a impossibilidade de tomar banho adequadamente em pleno calor do Rio de Janeiro e o esforço que o mesmo causava, estava realmente acelerando um parto prematuro. Eu me sentia exausta.

Coloquei uma bota removível, fiz algum repouso e tomei medicação orientada pela médica, para segurar a Carolina o máximo possível. Estava com alguma dilatação e a Carolina estava sentada.

Para alguém como eu que não sabe estar parada, confesso que foram semanas bem difíceis. Tive que admitir que precisava de ajuda. Continuei trabalhando de casa, mas nas tarefas domésticas precisava de alguma ajuda. Ganhei algum tempo depois um anjo, que me acompanhou durante alguns anos (a Márcia).

Com 36 semana, comecei a entrar em trabalho de parto. Com orientação médica, eu me aguentei por dois dias, até não dar mais. No dia 06 de setembro de 2013, segui de emergência para o HCN e cerca de 4 horas depois a princesa Carolina nascia.

Eu passei muito mal durante a cesariana e pouco me recordo do meu parto.

Percebi que a Carolina não chorou e isso me apavorou muito, apesar de me sentir meio desconectada. O apgar (7 e 10) foi normal, mesmo assim. Sabia que ela estava sendo "aspirada" por relatos do Cesar e da equipe médica presente. Após alguns minutos a colocaram no meu peito.

Que momento de luz, apesar do meu enjoo absurdo. Depois ela seguiu para a UTI Neonatal.

Até hoje não sabemos se tudo isso, ocasionou as suas limitações e atrasos motores.

Lembro de estar no recobro ainda recuperando da anestesia e do mal-estar que sentia (lembro que ainda com o pé quebrado se recuperando) e estar em desespero, pensando como ela estaria e quem estava com ela.

Ficou por algumas horas na incubadora, até que após muita insistência minha a levaram para o quarto de madrugada para que eu a visse com calma.

E aí sim, o nosso momento tinha chegado! Mãe e filha. Eu e ela. Dar de mamar. Que ser pequenininho, frágil, mas que tanto vinha ao mundo para me fortalecer e ensinar. Eu digo sempre que amamentar a Carolina, foi a coisa mais maravilhosa do mundo.

No dia seguinte tivemos alta. E na hora de pagar a conta do parto no hospital, recebemos a notícia que o plano tinha liberado, por se tratar de uma emergência. Ou seja, o pé quebrado, estava trazendo algo bom. Até hoje me emociono quando lembro desse episódio.

Esse dinheiro acabou por nos ajudar muito em despesas médicas que vieram depois.

Eu nunca operei o meu pé. Nem mesmo fiz fisioterapia. O meu tratamento foi cuidar da Carolina. Quando voltei ao médico ortopedista e levei os exames, ele me questionou o que eu tinha feito para ter recuperado tão bem e estar sem dor, tendo em conta que era uma lesão para tratamento cirúrgico.

Eu respondi: Cuidei do meu maior amor, a minha filha Carolina.


My job... (2018)

Decidimos voltar a morar no Brasil em 2013 (sem saber que estava grávida), no ano que a Carol nasceu. Neste período César trabalhava dobrado e eu tinha dois trabalhos, um negócio de família e a gestão para uma empresa Americana.

Depois do nascimento da Carol em setembro, comecei a procurar uma oportunidade na minha área, mas absolutamente nada surgia. Decidi recorrer a uma pessoa que até hoje é um exemplo para mim e que comprovou ser um uma pesssoa fantástica, além de um grande líder. É uma gratidão eterna que tenho por ele e já fiz questão de lhe dizer mais de uma vez.

Através desse anjo, consegui voltar a trabalhar para o Grupo Português, que eu tinha trabalhado ao longo dos últimos anos em Lisboa. Mas agora em uma área, fora da minha área de atuação até ali.

Estava empolgada, anestesiada por aquela oportunidade, essa chance incrível. Sabia da importância daquela oportunidade nas nossas vidas. Na nossa família.

Fui integrada a uma equipe nova, para trabalhar com uma área nova para a empresa e em um mercado ainda desconhecido.

Tive a oportunidade neste período de crescer como pessoa, mas também foi onde enfrentei os maiores desafios.

Era tudo muito diferente daquilo que eu estava acostumada: equipe, negócio, mercado, software, cultura, enfim tudo.

E foi justo neste período que também os primeiros sinais de dificuldades da Carolina surgiram.

Diversas vezes precisei sair do trabalho antes do meu horário para socorrê-la, viagens a trabalho foram canceladas, treinamentos perdidos.

Neste momento eu sentia que tudo poderia desmoronar a qualquer momento.

Afinal, cada vez a Carol precisava de mais terapias, médicos e medicamentos. Eu não poderia perder este emprego, mas sentia que caminhava encostada ao precipício.

Mas Deus estava cuidando de mim e da minha guerreira e colocou alguns anjos para me apoiar. Pessoas fantásticas que me apoiaram, que me suportaram, que me deram a flexibilidade para trabalhar e continuar a cuidar da Carol. Essas pessoas sabem quem elas são e o quanto tenho gratidão tatuada no peito.

Foram tantos momentos difíceis.

Foram momentos que quando eu menos esperava surgia, um novo anjo para me ajudar, num novo desafio ou luta.

Os dias se passaram, as semanas voando e apesar de todo o esforço, das muitas viagens e de muita luta de trabalho, a empresa decidiu encerrar as atividades daquela área de negócio.

Meu chão parecia que tinha caído. Pensei que teria que sair. Pensava que todo o esforço e tudo que aprendi tinha sido em vão. E como seria com a minha família? Como iria pagar todos os tratamentos necessários para a Carolina?

Mas eu tinha fé.

E foi então que fui convocada a trabalhar em outra empresa do grupo.

Sim, existem pessoas honestas e sinceras. Pessoas que olham os funcionários não como números, mas como seres humanos.

Passei a trabalhar no mesmo escritório, mas com outra empresa. Com a mesma atividade, mas com outros objetivos. Tinha muito por aprender, mas sabia que poderia ajudar, com a minha garra e coragem.

A Carol neste período precisava muito de mim ainda e nessa mudança eu teria de viajar mais ainda. Contei com a ajuda da minha Mãe em alguns momentos e em especial do Cesar. O meu marido é a peça fundamental para que eu possa executar o meu trabalho, com tranquilidade e empenho, a cada viagem que eu faço pelo mundo, sabendo que a nossa filha está bem.

E com toda a turbulência daqueles dias em casa e no trabalho, eu continuava de pé e firme.

E a vida me surpreendeu novamente...

A troca de empresa foi positiva de forma que nem eu esperava. Estava numa equipe com pessoas que eu me identificava e adorava trabalhar. Eram pessoas, profissionalmente incríveis e a nível pessoal únicas.

Eu olhava a Carol lutando a batalha diária dela e pensava: eu também posso fazer isso. Continuar sendo uma mãe dedicada e uma profissional empenhada.

E então, lá estava eu motivada novamente a batalhar nesse novo desafio.

Minha guerreira me motivou novamente e lutamos juntas, com o suporte a apoio do Cesar.

As crises melhoraram... o trabalho evoluiu... a vida no seu geral melhorou.

Não importa o que venha a acontecer amanhã o que sei é que eu posso lutar. A Carolina me motiva a ser melhor a cada dia, ela me faz ver que tudo é muito melhor do que imaginamos.

Quando penso em desistir... bom eu nem penso... resiliência está no meu DNA.

Meu trabalho hoje continua flexível, com a pressão de resultados, mas com a percepção de que trabalho com pessoas verdadeiramente especiais e únicas, numa temática que me encanta.

Gratidão por todos eles, com quem lido e trabalho nesta jornada diária.

A culpa é minha!

Acho que este tema é sem dúvida o mais doloroso.

Durante essa caminhada posso admitir aqui que o meu maior erro foi achar que a culpa era minha, quando entendi que a genética era a causa de tudo.

Quem me conheceu no passado, sabe que após um tumor e duas cirurgias tive ao longo de 10 anos, diversos problemas de saúde. Tomei vários remédios, até me disseram que não poderia engravidar.

Quando decidi engravidar, corri atrás de orientação médica, para ter o meu organismo limpo de remédios e por exemplo fiz semanalmente sessões de osteopatia, para conseguir suportar o peso da barriga e não sofrer das dores crónicas que tinha até aí (que saudades eu tenho das sessões do Escudeiro).

Trouxe frutos porque engravidei em 6 meses e durante os 8 meses de gravidez, me senti a supermulher. Apesar dos vómitos e sono nos 3 primeiros meses, foi a fase em que me senti mais saudável e guerreira.

Mas quando tudo se revelou, me culpei. Vezes e vezes sem fim.

Eu disse em consultas, disse para a minha família, ao Cesar, mas principalmente para mim. Pedi várias vezes perdão a Deus e à minha filha, mas não me perdoava.

Essa culpa de certa forma me fez sentir menor, menos mãe e menos mulher. Não entendia a importância da minha própria força para Carol. Vieram dificuldades no casamento e a dor e a tristeza só aumentavam.

Até o dia que senti na minha circulação sanguínea: pare de se culpar!

Procurei diversas ajudas, mas na verdade nada resultava muito.

Demorei a perceber que dentro de mim deveria nascer a motivação para virar a mesa, para dar energia para a minha filha, o conforto e a confiança para seguir adiante.

Mesmo com dificuldades avançamos e a Carol começou junto conosco a se transformar na guerreira que é.

Eu era a mãe, mas ela era a minha força.

Ela me motivou e dentro de mim pude sentir o mundo à minha volta mudar.

Mesmo as dificuldades do casamento foram superadas e hoje Cesar e eu, podemos juntos suprir todo o amor onde ela encontra seu refúgio.